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terça-feira, 14 de maio de 2013

CAPA PRETA




À primeira vista me pareces escura e sombria.
Essa tua capa fria, seca e amarga,
esconde segredos além de tudo o que vejo.
Enigma que me intriga, periga, instiga.

Aos poucos percebo um tímido impulso,
na insana confusão que habita em mim.
Sem noção, perdição,
me perdi na razão sem razão,
no não que já é sim,
e no sim que já não diz não.

Pecado, recado mudo que me invade o coração.
Entrega sem reservas,
sem perguntas,
nem respostas,
já não sei o que mais dizer.

Sinto, ressinto,
Sussurro, gemido,
feliz e sofrido,
no olhar escondido nas entrelinhas dos movimentos,
no desfilar de cada passo,
no disfarce do disfarce,
disfarçando sigo.

Uma capa preta sempre será necessária
para aquecer-me do frio que consome minh’ alma
e amortece todo o meu corpo.
Uma capa preta derrete o gelo da solidão
que me habita,
mesmo cercada de grande multidão.

Escondo-me embaixo de ti para que eu possa esquecer a solidão,
ainda que tudo seja insano, delirante ou até mesmo profano,
não reclamo...
As entrelinhas falam mais que mil palavras ditas,
sentem mais que os sentimentos demonstrados afetivamente no dia a dia.
As entrelinhas despertam o que dorme.
Acordam uma cidade inteira adormecida.
Levantam um exército derrotado e caído.

Meus poros expiram e transpiram a capa aonde me escondo e vivo.
Uma vida louca, breve e incerta.
O que dizer do que mais a frente nos espera?

É assustador, mas ainda assim não recuo e prossigo
mesmo sem saber aonde vou parar.
Também já não sei se posso voltar.
Preta é a capa que nos cobre.
Sombrio é o segredo que nos consome.
A capa que mais usamos sempre será a preta.
Sempre!

Ana Cristina, 14 de maio de 2013