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segunda-feira, 13 de junho de 2011

INVISÍVEL



Invisível,
maltrapilho e sujo.
Uma foto excluída do cartão postal.
Largado às avessas,
esquecido pelo tempo,
envelhecido pelo sofrer.
Sequer sabe as horas do seu viver.
Sequer imagina o que ainda lhe falta sofrer.
Sente o pesar das horas...
Não sabe onde estará amanhã.
“SE” vai “estar”...
Será?

A paisagem desta figura
me perturba
por ser obscura.
Enegreceu o meu ser.
Doeu em mim
vê-lo...
Uma dor doída,
dor na alma
de ver o frio
naquela pele suja
que sequer tinha
um cobertor quentinho
para amenizar seu frio, sua dor.

Mobilizada
pelo ímpeto de uma ação
e da minha inútil necessidade de fazer algo,
ainda que esse algo fosse “nada”,
providenciei-lhe um café quente
e um pedaço de pão.

Receosa de sua ação,
com cautela perguntei-lhe:
Quer?
Sem nenhuma resposta verbal
vi seus braços estendidos
e suas mãos a agarrar
o pedaço de pão
e o café
como se fosse o bem mais precioso
e talvez o seja.

Comoveu-me profundamente!
Escondida atrás de lentes escuras,
chorei sentindo uma dor moída,
Doía...

Moída,
ferida,
como navalha afiada,
cortou-me por dentro.
Engasguei-me
nos meus sentimentos e reflexões.
Fui tomada pela compaixão
que deveria ser minha companheira diária.
Não somente minha,
mas de todos nós.

Deveríamos ver no mendigo, no perdido,
no abandonado, um irmão.
Deveríamos agradecer a Deus pela fartura minha,
“nossa” do dia-a-dia
e da cama quentinha que embala meus sonhos,
“nossos” sonhos.

Desejei ser “melhor”.
Não somente hoje,
mas
dia após dia,
se é que o posso ser.
(sei que não)

Queria que esse sentimento
independesse de uma emoção ou
compaixão momentânea.
Que fosse um sentimento
movido pelo amor,
pelo amar ao próximo,
como diz o ditado popular:
“fazer o bem sem olhar a quem”.
Hipocrisia?
Utopia?
NÃO!!
É a natureza humana.
Ponto.

Ana Cristina, 18/05/2011