![]() |
À primeira
vista me pareces escura e sombria.
Essa tua capa
fria, seca e amarga,
esconde segredos
além de tudo o que vejo.
Enigma que
me intriga, periga, instiga.
Aos poucos
percebo um tímido impulso,
na insana
confusão que habita em mim.
Sem noção,
perdição,
me perdi na
razão sem razão,
no não que já
é sim,
e no sim que
já não diz não.
Pecado,
recado mudo que me invade o coração.
Entrega sem
reservas,
sem
perguntas,
nem
respostas,
já não sei o
que mais dizer.
Sinto,
ressinto,
Sussurro, gemido,
feliz e
sofrido,
no olhar escondido
nas entrelinhas dos movimentos,
no desfilar
de cada passo,
no disfarce
do disfarce,
disfarçando
sigo.
Uma capa
preta sempre será necessária
para aquecer-me
do frio que consome minh’ alma
e amortece todo
o meu corpo.
Uma capa
preta derrete o gelo da solidão
que me
habita,
mesmo
cercada de grande multidão.
Escondo-me
embaixo de ti para que eu possa esquecer a solidão,
ainda que
tudo seja insano, delirante ou até mesmo profano,
não
reclamo...
As
entrelinhas falam mais que mil palavras ditas,
sentem mais
que os sentimentos demonstrados afetivamente no dia a dia.
As entrelinhas
despertam o que dorme.
Acordam uma
cidade inteira adormecida.
Levantam um
exército derrotado e caído.
Meus poros expiram
e transpiram a capa aonde me escondo e vivo.
Uma vida
louca, breve e incerta.
O que dizer
do que mais a frente nos espera?
É assustador,
mas ainda assim não recuo e prossigo
mesmo sem
saber aonde vou parar.
Também já
não sei se posso voltar.
Preta é a
capa que nos cobre.
Sombrio é o
segredo que nos consome.
A capa que
mais usamos sempre será a preta.
Sempre!
Ana Cristina, 14 de maio de 2013